sexta-feira, 10 de agosto de 2012

O Processo de Desenvolvimento da Doença

Kriyakala - A Doença Segundo o Ayurveda

     O Ayurveda divide o processo de adoecimento em 6 estágios, chamados de Kriyakala: acúmulo (Sanchaya), agravamento (Prakopa), transbordamento (Prosara), relocação (Sthana Samsraya), manifestação (Vyakti) e diferenciação (Bheda).
     Os dois primeiros estágios ocorrem no sistema digestivo - Kapha, no estômago; Pitta, no intestino delgado; e Vata, no cólon. Segundo o Ayurveda, é muito importante manter o desequilíbrio do dosha em seu lugar de origem, o sistema digestivo, e tentar não deixar o processo avançar além dos 2 primeiros estágios.



I. O estágio de acúmulo, ou Sanchaya, se caracteriza pelo aumento do dosha no seu lugar preferencial. 
     Excesso de Kapha no estômago cria um bloqueio no sistema que leva à lassidão, sensação de peso, palidez, inchaço e indigestão. A acumulação de Pitta cria sensações de queimação, febre, hiperacidez, gosto amargo na boca e raiva. E o excesso de Vata gera gases, distenção, constipação, secura, medo, fadiga, insônia e o desejo por coisas cálidas.
     Não há sinais nem sintomas expressivos, a não ser pequenos desconfortos, e nesta fase todos os desequilíbrios podem ser resolvidos.

II. No estágio do agravamento, ou Prakopa, o acúmulo que não foi cessado provoca o agravamento do excesso de dosha e este deixa seu local no trato gastrointestinal.
     O agravamento de Kapha causa perda de apetite, indigestão, náusea, salivação excessiva, sensação de peso no coração e na cabeça e excesso de sono. Pitta agravado causa acidez aumentada, sensações de queimação no abdomen, baixa vitalidade ou insônia. O agravamento de Vata resulta em dores e espasmos no abdomen, sons nos intestinos e delírios. 
     Os sinais do dosha agravado ficam mais evidentes.

III. No estágio do transbordamento, ou Prosara, o dosha agravado em excesso no lugar de origem começa a invadir os tecidos, em especial os mais enfraquecidos, utilizando diferentes canais de transporte. Os doshas começam a transbordar no TGI e logo em seguida juntam-se à circulação do plasma e do sangue. Durante a circulação, os doshas então começam a se infiltrar nos órgãos, tecidos e excreções. Nesta fase, os sintomas no lugar de origem continuam a piorar, mas também podem mudar e há dificuldade de se detectar o que está errado no organismo.

     Quando há redução, remissão ou alívio nos desequilíbrios, dá-se o que é chamado de Prashama. No entanto, quando o alívio não ocorre, os diversos fatores continuam atuando (através do biotipo, alimentação, ambiente ou estados emocionais) e tendem a agravar cada vez mais a situação até chegar ao estágio de transbordamento.
     O processo de adoecimento é interrompido sem causar danos ao sistema se os doshas forem pacificados num destes 3 estágios. É mais fácil retomar o equilíbrio constitucional antes que os doshas em excesso atinjam os tecidos. Um, dois ou os três doshas podem estar agravados ao mesmo tempo. Mesmo que os sintomas iniciais sejam devidos a apenas um dosha, a permanência do desequilíbrio pode levar ao desequilíbrio dos outros dois. Dessa forma, uma doença mais complexa começa a se desenvolver.
     Os estágios tardios da doença começam na quarta fase, quando o dosha em excesso transborda e encontra um ponto fraco em um dos 7 tecidos (dhatus), instalando-se aí. Neste ponto, o primeiro sinal de alarme da doença é sentido e começamos a nos conscientizar de que nossa saúde está debilitada.
     De acordo com o Ayurveda, os tecidos podem apresentar-se com pontos fracos por diversos fatores: causas hereditárias, traumas físicos ou psicológicos, emoções não resolvidas ou reprimidas, vícios, infecções e/ou doenças anteriores, por ações e atitudes nesta vida ou em vidas passadas e, finalmente, por um estilo de vida inadequado.
     O quarto estágio do adoecimento só tem lugar se houver um ou mais tecidos enfraquecidos. Se não houver, o dosha em excesso volta para a circulação sem causar danos adicionais. Quando o quinto estágio é alcançado, a doença estabelece uma raiz e o tratamento adequado é necessário. No último estágio, o excesso de dosha num determinado tecido leva ao enfraquecimento geral do organismo e, a menos que o dosha seja pacificado, ele transbordará para outros tecidos.

IV. No quarto estágio, a relocação, ou Sthana Samsraya, há o depósito do dosha em excesso no primeiro tecido que apresentar-se enfraquecido. Aqui é quando doenças específicas começam a se desenvolver. Por exemplo, um mal de Vata pode mover-se para os ossos e começar a criar artrite. Se o duodeno está fraco, os doshas se depositam lá e criam uma úlcera (em geral, uma condição de Pitta). Já Kapha move-se para órgãos como os pulmões. O dosha depositado combina-se com o tecido e com ele é produzido, assim como seus subprodutos, todos de qualidade inferior. Há produção de toxinas.

V. No estágio da manifestação, ou Vyakti, como efeito do depósito do dosha em excesso no tecido, no estágio 4, a doença se torna bem desenvolvida e começa a produzir todo tipo de sinais e sintomas clínicos. Aqui os desequilíbrios ganham nomes tais como bronquite, artrite, etc. Há a necessidade de controle da doença pela supressão dos níveis excessivos do dosha desequilibrado. Num primeiro momento, é recomendado Panchakarma e/ou tratamento com plantas medicinais. Depois, outras medidas complementares são necessárias para prevenir a recorrência da doença.

VI. No estágio da diferenciação, ou Bheda, o excesso do dosha rompe a integridade do sistema e surgem complicações. Os sintomas tornam-se, porém, suficientemente claros para que a causa elementar possa ser determinada. Por exemplo, asma de Vata irá causar pele seca, constipação, ansiedade, ataques ao amanhecer e o desejo por aquecimento. A asma Pitta irá mostrar fleuma amarelado, febre, suores e ataques ao anoitecer e à meia-noite. Já a asma criada por Kapha criará fleuma pálido, água nos pulmões e ataques durante a manhã e ao anoitecer.
     A doença atual pode se resolver, porém facilitando sua recorrência futura ou sua permanência, "adormecida", até que surjam condições propícias para que se manifeste outra vez. Mesmo quando o excesso do dosha é pacificado, o corpo torna-se mais fraco, o que exige uma atenção permanente. Se o dosha não é pacificado, o seu excesso move-se e fixa-se em outros tecidos, onde originará outras ramificações da doença.

Ama, as Toxinas

     Ama, segundo o Ayurveda, é o material parcialmente digerido que é produzido em uma digestão incompleta e que, se não for eliminado regularmente, torna-se tóxico e espalha-se pelo organismo causando vários tipos de distúrbios. Seus atributos lembram os de Kapha: pesado, frio, espesso e pegajoso. Pode ser também considerado o produto de excreção da digestão que não deveria estar presente no organismo, uma vez que este não tem um mecanismo específico para sua eliminação. Por essa razão, Ama não é considerado como um dos malas.
     Ama é produzido quando agni, o fogo gástrico, é prejudicado devido a um desequilíbrio no tridosha e o metabolismo fica drasticamente afetado. A resistência e o sistema imunológico do corpo são danificados. Os componentes da comida não são digeridos nem absorvidos, acumulam-se no intestino grosso e transformam-se na substância heterogênea, mal-cheirosa e pegajosa chamada de ama, que obstrui os intestinos e outros canais, como os capilares e vasos sanguíneos.
     Finalmente, passa por muitas transformações químicas, criam as toxinas, que são então absorvidas pelo sangue e entram na circulação geral. Eventualmente, acumulam-se nas partes mais fracas do corpo, onde criam contração, constipação, estagnação e fraqueza dos órgãos, reduzindo o mecanismo imunológico dos respectivos tecidos. Por fim, uma condição de enfermidade manifesta-se nos órgãos afetados e é identificada como patologia.
     A raiz de toda doença é ama, e há muitas causas para o seu desenvolvimento. Por exemplo, sempre que alimentos incompatíveis forem ingeridos, agni será diretamente afetado como resultado das toxinas, ou ama, criadas por essa comida precariamente digerida.

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